Canidade: rastros coloniais e branquidade nas relações multiespécie cachorro-humano

O objetivo deste artigo é discutir os ideais normativos do cachorro, o que chamo “canidade”, como um espaço – físico e metafórico – de fantasias coloniais-civilizatórias ao redor da história, a “natureza canina”, sua inserção semiótico-material na estrutura social e os ordenamentos afetivos em escala corporal. Proponho que os cachorros, de modo muito semelhante aos grupos humanos subalternizados e “animalizados”, têm sido submetidos a regimes de branqueamento para garantir sua permanência e pertinência na sociedade mexicana e urbana de Cidade do México, especialmente com a premissa implícita de que, ao ser “animais”, são incapazes de se governar a si próprios. Para analisar isso, proponho um percurso histórico-etnográfico desde um enfoque interespécie com o fim de pensar o especismo como uma ordem afetiva que usa formas estereotipadas de amor e cuidado como tecnologias para o controle canino, uma necessidade de controle que pode ser rastreada a partir da conquista e cuja figura paradigmática de controle é o homem branco-moderno-colonial.